12 jun 2024

Relatório Global de Integridade 2024: desafios para as empresas da América Latina

Por Marlon Jabbur

Sócio Líder da EY Brasil para Forensics & Integrity Services

Graduado em Ciência da Computação. Possui certificação nas ferramentas de investigação forense: EnCase e Accessdata.

12 jun 2024

A integridade é um elemento-chave para as organizações: permite que elas se diferenciem claramente para garantir seu valor, sucesso e sustentabilidade a longo prazo. Nesse sentido, o Relatório Global de Integridade 2024 da EY apresenta resultados que nos levam a refletir, agir e ter uma cultura corporativa que não só diz, mas como também, faz o que diz fazer.

Em resumo:

  • 66% dos brasileiros entrevistados acreditam que os padrões de integridade nas organizações melhoraram nos últimos dois anos.
  • No Brasil, 40% dos gestores acreditam que as empresas facilitaram o acesso dos colaboradores aos canais de denúncias, em contraste a apenas 26% dos colaboradores operacionais que compartilham dessa opinião.
  • 38% dos entrevistados latino-americanos acreditam que os executivos estariam dispostos a se comportar de forma antiética e 47% dos entrevistados destacaram que, em pelo menos uma ocasião em que denunciaram um ato antiético, sentiram pressão para não o fazer.

Embora as organizações tenham aumentado seus esforços para gerar e promover uma cultura de integridade, ainda há uma certa predisposição por parte dos colaboradores, em todos os níveis, para se envolverem em atos antiéticos, a fim de obter melhores resultados para suas empresas ou benefícios pessoais.

Para colocar isso em perspectiva, o Relatório Global de Integridade 2024 da EY observa que, no Brasil:

  • 66% das pessoas entrevistadas acreditam que os padrões de integridade nas organizações melhoraram nos últimos dois anos.  Diversos fatores contribuem para essa percepção. Entre eles, 62% dos entrevistados atribuem a melhoria à maior participação e ao comprometimento da alta gestão, conselhos e diretorias nas discussões sobre o tema. O "tone at the top", termo amplamente conhecido entre os profissionais de Compliance, provou ser, mais uma vez, fundamental na promoção e fortalecimento da integridade corporativa.
  • Há um maior posicionamento dos colaboradores na cobrança de ações de integridade nas suas Companhias. 83% dos participantes da pesquisa se mostram comprometidos em exigir que suas lideranças (gerentes, diretores, conselheiros e outros) estejam ativamente envolvidas não apenas nas conversas sobre conduta ética e na prática do "fazer o certo", mas também na condução de casos ou incidentes relacionados a má conduta nas organizações.

O que a pesquisa nos indica em relação a América Latina:

  • 38% dos entrevistados latino-americanos acreditam que os executivos estariam dispostos a se comportar de forma antiética para melhorar sua carreira ou situação financeira pessoal. Algumas das ações que poderiam ser realizadas são: fornecer informações falsas à administração, ignorar condutas antiéticas em suas equipes e falsificar dados de clientes, entre outras. Deve-se notar que ao nível global os resultados são semelhantes.
  • 46% acreditam que há gerentes em sua organização que sacrificariam sua integridade para obter ganhos questionáveis de curto prazo para a organização.
  • 33% indicam que o comportamento antiético é tolerado em suas organizações quando o pessoal sênior ou de alto desempenho está envolvido.
  • 47% indicaram que em pelo menos uma das ocasiões em que tiveram que denunciar uma má conduta, sentiram pressão para não o fazer.

A percepção e suas contradições

Apesar dos números indicarem um cenário mais otimista, existe uma discrepância significativa entre a gestão e a operação. No Brasil, 40% dos gestores acreditam que as empresas facilitaram o acesso dos colaboradores aos canais de denúncias, em contraste a apenas 26% dos colaboradores operacionais que compartilham dessa opinião.

Os resultados da pesquisa apontam que ainda há um longo caminho a percorrer na conscientização dos colaboradores sobre a importância de reportar questões aos canais de denúncias e/ou canais específicos para o relato de condutas antiéticas. O medo de retaliações e outros fatores que indicam um desconforto ou uma falta de responsabilidade dos colaboradores em fomentar uma cultura de integridade ainda são importantes. Cerca de 41% dos entrevistados brasileiros acreditam que suas preocupações não seriam devidamente abordadas, e o mesmo percentual teme por sua integridade física ao considerar a possibilidade de reportar comportamentos antiéticos em suas empresas.

Em relação aos entrevistados latino-americanos em geral, nos últimos dois anos, melhorias foram observadas, com 64% acreditando que uma maior atenção foi dada à cultura de integridade. Essa sensação de melhora se deve principalmente aos seguintes critérios:

  • A necessidade de cumprir com as exigências dos clientes (35%).
  • A gestão da administração (45%).
  • O impulso regulatório (46%).

Apesar disso, as pressões no momento de relatar uma conduta antiética são óbvias. Por exemplo, 47% dos entrevistados indicaram que, em pelo menos uma das ocasiões em que tiveram que denunciar uma má conduta, sentiram pressão para não o fazer.

Por outro lado, boa parte dos executivos não relatou nenhuma conduta antiética porque achavam que suas preocupações não seriam abordadas (39%), consideraram que não era sua responsabilidade abordar a situação (33%) ou sentiram pressão da administração para não relatar (22%).

 

Desafios de Integridade na América Latina

64% dos entrevistados na América Latina indicaram que um desafio para as organizações nas quais trabalham é manter a conformidade com os padrões e normas de integridade em tempos de mudança ou condições de mercado desafiadoras. Esse percentual é superior ao reportado globalmente (50%).

Tanto a nível global como regional, mais de um quarto dos entrevistados, 28% e 27% respectivamente, afirmam que o maior risco interno reside em os colaboradores não internalizarem as regras que devem reger sua conduta. Somam-se a isso outros fatores internos, como a alta rotatividade ou a falta de recursos.

Externamente, o atual ambiente macroeconômico representa a maior pressão externa para que os colaboradores não atuem com integridade, como afirmado por 39% dos executivos regionais. Soma-se a isso a crise relacionada à saúde e as expectativas de desempenho financeiro no mercado.

É vital fortalecer a cultura de integridade em todos os níveis, não apenas para evitar penalidades ou multas, mas para estabelecer os objetivos das empresas sobre bases sólidas, oferecer valor às partes interessadas, construir confiança no mercado, minimizar riscos e proteger a reputação corporativa, além de atrair os melhores talentos. A integridade traz benefícios para as organizações e permite que elas se diferenciem claramente para garantir seu valor, sucesso e sustentabilidade a longo prazo.

ESG e Inteligência Artificial no Brasil

Aproveitamos a pesquisa e o contato com os entrevistados para avaliar dois assuntos relevantes no contexto de compliance: ESG e Inteligência Artificial.

A pesquisa apontou que, no Brasil, 51% dos entrevistados afirmam que suas empresas já adotaram ferramentas que utilizam técnicas e/ou aplicam inteligência artificial em suas atividades diárias. Interessante observar que as empresas nacionais estão mais predispostas ao assunto quando comparamos com os entrevistados ao redor do mundo: apenas 29% dos entrevistados afirmaram que suas empresas estão utilizando tecnologias que utilizam a IA.

Destes 51% de entrevistados, 92% das pessoas indicaram que suas empresas estão preocupadas em estabelecer processos e políticas que observem os riscos relacionados à adoção de IA, além de aspectos como segurança, privacidade e ética no uso de algoritmos específicos.

Da mesma forma que observamos melhorias nas comunicações relacionadas a práticas éticas e boas condutas nas empresas, ESG tem sido um assunto abordado entre as lideranças brasileiras. 74% dos entrevistados no Brasil indicaram (entre boa e muito boa classificações) que suas empresas têm divulgado o assunto de forma clara e transparente aos seus colaboradores.

O tema de sustentabilidade é o mais endereçado nas empresas. Cerca de 45% dos entrevistados mencionaram a pauta como a mais relevante em suas companhias, seguidas de 36% em Recursos Humanos/ Pessoas e 35% gerenciamento de risco - governança.

  • Sobre o Relatório Global de Integridade de 2024 da EY

    Relatório Global de Integridade 2024 da EY é baseado em um questionário online anônimo envolvendo mais de 5.400 entrevistados (membros do Conselho, níveis gerenciais e operacionais) de 53 países e territórios ao redor do mundo, representando quase 30 indústrias.

Resumo

As organizações aumentaram seus esforços para gerar e promover uma cultura de integridade. De acordo com o Relatório Global de Integridade 2024 da EY, para 66% dos brasileiros, os padrões de integridade nas organizações melhoraram nos últimos dois anos. No entanto, ainda há uma predisposição para o envolvimento em atos antiéticos. Por exemplo, 38% dos entrevistados latino-americanos acreditam que os executivos estariam dispostos a se comportar de forma inadequada para melhorar sua carreira ou situação financeira pessoal.

Sobre este artigo

Por Marlon Jabbur

Sócio Líder da EY Brasil para Forensics & Integrity Services

Graduado em Ciência da Computação. Possui certificação nas ferramentas de investigação forense: EnCase e Accessdata.