Agência EY - Sharm El Sheikh, Egito
Seguimos acompanhando de perto a cobertura da 27ª Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 27), no Egito. Esta é a semana mais importante, pois as negociações climáticas estão caminhando para conclusões e encaminhamentos políticos que prometem nos impactar globalmente. Uma das temáticas muito importantes para a EY é a geração de energia. Ela é vital não apenas à nossa sobrevivência mínima, mas também à segurança da sociedade como um todo.
Nesse sentido, na terça-feira (15), o Dia da Energia concentrou as discussões da COP 27 em torno de experiências bem-sucedidas nos países, lançamentos de estudos com dados inéditos entre os pavilhões internacionais e muitos debates propositivos, sobretudo no espaço oficial do governo federal, que centralizou a temática de energia verde nesta cúpula do clima.
Entre as vantagens mais competitivas que temos enquanto país é a evidência de que o Brasil já fez a transição energética para renováveis na geração de energia. Cerca de 85% da eletricidade produzida em território nacional é de fontes renováveis. Vamos aos números: enquanto a geração eólica responde por 12,8% da matriz energética brasileira, a geração solar corresponde a 3,7%. Considerando que esses dados foram registrados em 2022, a previsão é que essas mesmas matrizes mencionadas cheguem a 15% e 6,9% respectivamente.
“O potencial de energia renovável no Brasil é um dos maiores do mundo. Nossa oferta de solar e eólica faz com que o Brasil tenha um mercado de US$ 15 bi em hidrogênio verde”, avalia Ricardo Assumpção, sócio-líder de ESG para a América Latina Sul e Chief Sustainability Officer da EY Brasil.
Outro pilar competitivo e positivo em relação ao setor elétrico é a empregabilidade. Só em 2021, o setor de energias renováveis empregou 12.7 milhões de pessoas, considerando o quadro comparativo crítico de 65 milhões de trabalhadores empregados no setor energético como um todo. Os dados são do International Renewable Energy Agency (IRENA) e, devido a tamanha importância, eles estão estampados logo na entrada do pavilhão do instituto na COP 27.
“Hoje temos menos de um terço renovável e dois terços de combustível fóssil no sistema energético. Teremos uma situação completamente diferente em 2050, quando as energias renováveis e limpas serão mais de dois terços da energia… tudo está mudando”, afirmou o diretor-geral da IRENA, Francesco La Camera.
Por outro lado, quando olhamos para o cenário global, há algumas ressalvas. Estamos em uma linha tênue entre a crise energética e um sistema sustentável de energia limpa. Segundo o IRENA, apenas 2% dos investimentos globais em energia renovável nas duas últimas décadas foram feitos no continente africano. O que talvez poucos saibam, na realidade, é que a África possui mais potencial técnico para a produção de hidrogênio verde do que qualquer outra região no mundo. Esse é apenas mais um exemplo do porquê o mecanismo de perdas e danos (loss and damage) é essencial para endereçar soluções concretas, combatendo, assim, a desigualdade social no que diz respeito à distribuição e ao acesso aos recursos energéticos.
Por isso, é de suma importância que o setor privado siga mapeando os riscos e oportunidades quando falamos em transição energética no Brasil. Entre as questões regulatórias envolvidas, tanto o custo mais competitivo para as fontes renováveis quanto a redução da pegada de carbono são duas prioridades que devem caminhar indissociavelmente. O investimento em Power Purchase Agreements (PPAs), que são contratos corporativos de compra de energia, é um dos possíveis caminhos positivos para as empresas. Eles não beneficiam apenas às instituições, mas sem dúvida toda a sociedade.
Apesar de boas perspectivas, relembramos que o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE). Para reposicionarmos o Brasil na geopolítica climática global faz-se necessário o engajamento, cooperação internacional e compromisso com ações multissetoriais, sobretudo no setor privado. Assim, poderemos ir ainda mais longe na trilha por um desenvolvimento sustentável, energético e equitativo no país. Isso é o que chamamos de transição justa.
Ricardo Assumpção citou como exemplo a produção de aço. Segundo ele, produzir no Brasil é mais sustentável por conta da matriz energética, que se traduz em um diferencial comparativo natural para o país. “Para termos uma ideia, quando falamos em produção de aço, o mundo, em média, emite 2,7 toneladas de carbono equivalente na produção de uma tonelada de aço. No Brasil, emitimos 1,7 tonelada de carbono equivalente por tonelada de aço produzido, ou 43% a menos. Isso significa que produzir no Brasil é mais verde”, explicou Assumpção.