Por Afonso Sartorio, sócio-líder da EY para o setor de Energia na América Latina Sul
Entre as vantagens mais competitivas que temos enquanto país é a evidência de que o Brasil tem uma matriz mais “verde” do que a média mundial, incluindo os países mais desenvolvidos. Cerca de 85% da eletricidade produzida em território nacional vem de fontes renováveis. Fato que comprova o nosso grande potencial para capturar vantagens competitivas na cadeia global. Devido às fontes hidráulicas, nossa matriz é mais limpa, o que nos assegura cada vez mais benefícios e boas condições para disputar a maratona da transição energética.
Nos panoramas nacional e global, compreendemos que a melhoria da eficiência energética por meio da introdução de novas tecnologias e processos operacionais pode impulsionar a produtividade, contanto que não seja transversal à descarbonização. As empresas que forem capazes de atingir a neutralidade de carbono em suas emissões vão se destacar não apenas na cadeia de valor, mas também nas boas oportunidades geradas pela economia verde.
Nesse percurso da transição energética, é oportuno que o setor privado tenha um olhar atento para as comunidades locais. Ir além das obrigações regulatórias deve ser um compromisso do pilar “ambiental e social” em todas as etapas e processos que integram a construção de uma matriz predominantemente renovável. Essa dinâmica permite apostar em soluções baseadas na natureza (SbN) para desenvolver ativos operacionais mais sustentáveis.
Por isso, é de suma importância que o setor privado siga mapeando os riscos e oportunidades quando falamos em transição energética no Brasil. Entre as questões regulatórias envolvidas, tanto o custo mais competitivo para as fontes renováveis quanto a redução da pegada de carbono são duas prioridades que devem caminhar indissociavelmente. O investimento em Power Purchase Agreements (PPAs), que são contratos corporativos de compra de energia, é um dos possíveis caminhos positivos para as empresas e os negócios centrados na agenda ESG. Eles não beneficiam apenas as instituições, mas sem dúvida toda a sociedade.
Apesar de boas perspectivas, relembramos que o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa (GEE). Para reposicionarmos o país na geopolítica climática global, há necessidade de engajamento, cooperação internacional e compromisso com ações multissetoriais, sobretudo no setor privado. A descarbonização deve ser analisada sob a ótica do Acordo de Paris, que enfatizou a transição energética e preservação dos biomas. Não há mais tempo a perder. A EY Brasil acredita que o setor privado pode contribuir ativamente para a transição energética por meio das quatro diretrizes a seguir:
1) Antes de tudo, as organizações devem sempre divulgar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e os impactos dos riscos climáticos. É preciso divulgar metas e objetivos climáticos e, por meio de uma governança estruturada, monitorá-los.
2) Atenção para as compensações de carbono com créditos de origem externa. Além disso, destaque para fontes de energia renovável, geração de energia secundária de hidrogênio e bateria para substituir os combustíveis fósseis (diesel) para outras aplicações locais.
3) Por meio de pesquisas, estudos e evidências, é preciso identificar as tecnologias e os modelos de negócios a serem usados para acelerar a descarbonização.
4) O valor da transparência ao compartilhar planos de neutralidade de carbono e seus sucessos ao longo do caminho é importante para a organização ganhar a confiança dos investidores e, potencialmente, vantagem competitiva.
Este artigo faz parte do ESG Guidebook. Acesse aqui o e-book na íntegra.