Por Katharina Weghmann, líder global da EY em ESG, Forensic & Integrity Services
A verificação das divulgações de sustentabilidade está se intensificando, com investidores, ativistas, clientes, funcionários, fornecedores e reguladores tendo expectativas cada vez maiores em relação à estratégia e aos relatórios de uma empresa nessa área. As empresas são obrigadas a responder satisfatoriamente a esse estímulo. Mas como? Tradicionalmente, elas olhariam para a regulamentação ou para a concorrência, mas atualmente não há direcionamento claro quando se trata de resultados ESG. As promessas são feitas rapidamente, e as práticas internas, juntamente com as estruturas atuais de sistemas, processos e controles que permitem a gestão das organizações, muitas vezes não parecem adequadas para o desafio.
Temos, como exemplo, os objetivos de carbono net zero. Os planos das organizações pioneiras podem ter sido definidos de boa-fé, mas não há muita confiança em relação aos dados e processos necessários para atingir esse objetivo. O resultado disso pode ser o greenwashing, que é definido, de acordo com o Cambridge Dictionary, como “comportamento ou atividades que fazem as pessoas acreditarem que uma empresa está fazendo mais para proteger o meio ambiente do que realmente está”.
A relação entre padrões éticos e ESG
Os dados ESG podem ser manipulados, com os funcionários confiando nas fraquezas inerentes e na ambiguidade dos relatórios de sustentabilidade. Em um sistema de relatórios financeiros, normalmente existe uma forte estrutura de controles com aprovações de gerenciamento. No entanto, como os programas ESG são multifuncionais e menos maduros, essa estrutura de controles pode não estar em vigor.
Os padrões éticos têm enorme potencial para prejudicar as divulgações de ESG. O EY Global Integrity Report 2022 constatou que esses padrões estão caindo após a pandemia. Em uma lista de atividades fraudulentas, incluindo falsificação de registros financeiros, aceitar ou oferecer subornos e enganar reguladores ou auditores, 43% dos membros do conselho e 35% dos gerentes seniores fariam pelo menos uma delas para ganho pessoal. Trinta e nove por cento dos funcionários estariam dispostos a realizar atividade ilegal ou antiética para benefício próprio ou a pedido de um gerente.
Os funcionários justificarão suas ações ao cometer fraude ESG da mesma forma que fazem ao cometer fraude financeira. “Ninguém se machuca”; "não é grande coisa”; e “é para o bem maior da empresa” são argumentos comuns. E com a remuneração cada vez mais vinculada ao desempenho ESG, as dificuldades pessoais representam potencial fator de risco de fraude em todos os níveis de uma organização.
Um recorde de 97% dos entrevistados no EY Global Integrity Report 2022 concorda que a integridade é importante. No entanto, a alta administração geralmente confia demais na eficácia dos seus programas de integridade corporativa, que, como sabemos, têm muitos problemas. Isso gera implicações para as aspirações ESG de uma organização e aumenta a probabilidade de greenwashing.
A alta administração e os membros do conselho devem se certificar sobre aquilo que estão dizendo e considerar os potenciais riscos comerciais, reputacionais, legais e financeiros de fazer declarações que não podem sustentar ou provar. Caso contrário, eles podem ser responsabilizados por violar um princípio básico de administração e cidadania corporativa, que é a integridade corporativa.
O que fazer então?
- Avalie se os conselheiros representam a função mais eficaz para conduzir os esforços ESG e evoluir a organização em direção à sustentabilidade a partir de uma abordagem voltada para a integridade;
- Desafie e reinvente as estruturas e funções do conselho como parte da jornada de sustentabilidade. Os cargos de diretor de ética e de CFO podem evoluir para conduzir a transformação da sustentabilidade na organização;
- Aumente a diversidade do conselho: traga conhecimento para ele, usando comitês especializados para garantir a disseminação do conhecimento em sustentabilidade;
- Divida as atividades, encontre novas formas de trabalhar e estabeleça sistemas e processos rigorosos (incluindo estruturas de incentivo) para que as divulgações ESG não sejam classificadas como greenwashing;
- Certifique-se de que há um entendimento abrangente e suficientemente claro da estrutura de relatórios ESG em conformidade com as melhores práticas do mercado, defina cenários de possíveis erros com ações de mitigação e identifique sinais de alerta.
No próximo artigo, mostraremos o que as empresas devem fazer em qualidade de dados e cultura organizacional. Leia aqui o texto anterior.