Por Ricardo Assumpção, sócio da EY, líder de ESG para a América Latina Sul e Chief Sustainability Officer do Brasil
OBrasil tem um grande potencial para o desenvolvimento de uma economia verde. Afinal, temos a maior floresta tropical do mundo, a Amazônia, que, caso fosse uma empresa, teria um valor econômico superior a dez vezes o Produto Interno Bruto (PIB) mundial, U$1.000 trilhões. Uma árvore na Amazônia tem mais biodiversidade do que qualquer floresta no continente europeu. Ou seja, podemos afirmar tranquilamente que o país é a terra das oportunidades verdes e tem condições de liderar qualquer processo nesse sentido entre todas as nações. Temos ainda o maior mercado de carbono offset do mundo, estimado em até U$ 15 bilhões até 2030.
Porém, para que isso se torne realidade e nossa economia verde decole de fato e gere divisas e bem-estar para toda a sociedade brasileira, é necessário entender e discutir algumas questões. Em primeiro lugar, o Brasil tem um mercado interno relacionado a sustentabilidade muito fragmentado e um tanto desorganizado. Temos empresas sérias, com boas iniciativas no sentido de alinharem propósito, sustentabilidade e lucro, mas que ainda atuam de maneira muito isolada numa agenda em que é necessário colaboração. Precisamos entender também quais os nossos ativos verdes únicos e tratá-los como um pacote, não de maneira individual. Vamos imaginar que você entre em uma loja e compre apenas o garfo e deixa a faca e a colher. Pode até funcionar na mesa, mas não será algo completo.
Em segundo lugar, precisamos alavancar o nosso potencial de fato relacionado à capacidade de produzir com mais verde e com menos emissões. Atualmente, 85% da produção de energia elétrica nacional é formada por fontes renováveis, o que garante uma produção com menos emissões de carbono. O aço é um bom exemplo. A produção de uma tonelada de aço brasileiro emite 1,6 tonelada de CO2e. No mundo, o índice é de 2,5 toneladas de CO2e por tonelada de aço produzido. Nosso potencial para a produção de energia eólica e solar é imenso, o que pode melhorar ainda mais esses índices de emissões, além da capacidade de produção do hidrogênio verde, a partir da eletrólise da água.
Um terceiro ponto é que temos um problema de imagem e credibilidade quando o assunto é sustentabilidade, o que nos deixa numa posição econômica fragilizada. Aqui, vai um bom exemplo: se a França é conhecida por sua culinária internacional, a Itália pelos vinhos e o Vale do Silício, nos Estados Unidos, por inovação tecnológica, qual deve ser a nossa vocação? Sustentabilidade. Essa deve ser a nossa marca e envolve um trabalho conjunto entre governos, empresas, setores da sociedade civil e organizações não-governamentais.
Em resumo, precisamos consolidar o mercado e as oportunidades, colocar um preço justo em nossos ativos e mostrar como eles criam valor para as empresas, para as pessoas e ao planeta. É necessário trabalhar para construir uma imagem sólida e duradoura com o tema da sustentabilidade.
Em relação a investimentos que possam maximizar o valor para a sociedade, há muito potencial na bioeconomia, na biodiversidade e nos biomateriais. Trata-se de um tema ainda pouco explorado pelos negócios, mas existe uma demanda crescente e que pode ser uma importante fonte de renda para a população amazônica, por exemplo.
Para atrair o investidor, é necessário falar com ele. Como foi amplamente debatido durante a Semana do Clima de Nova York, que antecede a COP27, um dos eventos de sustentabilidade mais prestigiados do mundo, o investidor enxerga oportunidades no Brasil, mas analisa bastante antes de alocar seus recursos. Uma das maneiras pelas quais os investidores entendem os riscos e a criação de valor é a partir da divulgação de relatórios financeiros pelas empresas. A estratégia de sustentabilidade tem de estar alinhada com as demonstrações financeiras. Além disso, todos os planos devem ser divulgados de forma que o investidor possa conectar a ação e seus impactos.
Outra questão muito importante é o desenvolvimento de atividades econômicas que permitam que a floresta em pé seja mais viável do que o desmatamento. A cultura do açaí e do cacau são bons exemplos que podem ganhar escala em projetos bem elaborados e consolidados.
Finalmente, é preciso investir maciçamente em educação. Para mudar a realidade, é necessário mudar a mentalidade. A sociedade deve tomar as decisões certas; para isso, é necessário fomentar o debate e compartilhar conhecimento e, no fim, compartilhar os mesmos objetivos para a sociedade e para o planeta.
O economista Roberto Campos dizia que o Brasil não perde a oportunidade de perder uma oportunidade. Temos todas as condições para mostrar que os tempos são outros e a inovação verde brasileira é uma realidade em diversos setores. Não devemos desperdiçar o nosso potencial como ocorria no passado. Cabe a todos nós agarrar essa oportunidade e mostrar o quanto temos a ganhar com a economia verde, em especial o planeta.