Por Leonardo Donato, sócio-líder da EY em Telecomunicações, Mídia & Entretenimento e Tecnologia para América Latina
Quem, assim como eu, é aficionado por tecnologia e viveu no começo dos anos 2000 deve se lembrar do filme A.I. – Inteligência Artificial, dirigido por Steven Spielberg. Essa é apenas uma das muitas obras de ficção científica que retrataram o tema da inteligência artificial. E, passados mais de 20 anos, seguimos com essa temática em voga. Mas o que mudou? De que forma essa tecnologia pode transformar o negócio das empresas? Essa é uma das principais pautas do Mobile World Congress (MWC) deste ano, sendo observada como tema em diversas sessões.
Empresas de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações (TMT) estão na liderança da adoção da inteligência artificial e, conforme o mundo da Inteligência Artificial Generativa (GenAI) toma forma, esse segmento de mercado desempenhará um papel crucial, incorporando a GenAI em seus portfólios de serviços e a implementando em seus roteiros internos de digitalização.
O EY Reimagining Industry Futures 2024, estudo feito globalmente pela EY e divulgado no evento, traz um recorte que reforça o protagonismo da GenIA, destacando, no entanto, que seu maior potencial está em sua combinação com demais tecnologias emergentes. Líderes empresariais reconhecem o potencial da GenAI em uma variedade de casos de uso, porém as opiniões divergem sobre como melhor ativar suas capacidades: 38% são favoráveis a uma abordagem incremental para adoção, a perspectiva líder.
A melhoria da governança de dados lidera a lista de prioridades da GenAI entre as empresas, citada por 46% dos entrevistados. Aproveitar a GenAI como parte de uma estratégia tecnológica mais ampla está em segundo lugar, destacando como as novas tecnologias estão desafiando os roteiros de transformação existentes. Enquanto isso, as empresas querem uma melhor compreensão dos casos de uso da GenAI, mas, tão importante quanto, quaisquer riscos que precisarão mitigar. As perguntas são muitas tanto no âmbito da oportunidade de novos negócios como nas questões regulatórias. Quais são as fronteiras das oportunidades potencializadas com o 5G + GenAI que podem ser monetizadas no curto prazo? O que mudará na forma como usamos os nossos smartphones quando todo o potencial dessas tecnologias for explorado? O que mudará na medicina quando uma boa parte da população usar equipamentos digitais que permitirão o monitoramento da nossa saúde em tempo real com uso de IA para um diagnóstico mais preciso?
Produtos e serviços personalizados, juntamente com serviços jurídicos e financeiros, estão ainda mais atrás em termos de amplitude e velocidade de adoção, refletindo uma consciência da necessidade de tratamento ético e seguro de dados sensíveis em um momento em que questões regulatórias da IA estão apenas se formando.
Ainda sobre isso, também vale reforçar que nossa realidade aqui no Brasil é particular, por diversas questões como tamanho do país, população e diferentes “Brasis” dentro de um só país. Quando falamos dos países da Europa, por exemplo, que em sua maioria tem uma extensão territorial menor e um nivelamento mais igualitário socioeconômico, fica um pouco menos desafiador a adoção uniforme de tecnologias, independentemente de qual seja.
Projeções de estudiosos e especialistas da área revelam que o uso de IA pode gerar um acréscimo de US$ 200 trilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2030. Esses números chamam a atenção, mas existem ainda muitos questionamentos sobre a dinâmica, segurança, privacidade e produtividade dessa tecnologia.
Em função das especificidades e diferentes níveis de maturidade para implementação, uma prática adotada na EY é trabalhar com nichos de aplicações diferenciados para entender o mercado de cada cliente, suas peculiaridades, as vantagens, fazendo uma análise dessa maturidade de adoção. Dessa forma, conseguimos mergulhar em cada setor e ser mais analítico e assertivo na forma como orientar cada caso. E quando trazemos essa realidade especificamente para o mercado das empresas de tecnologia e telecomunicações, isso tem atraído grande parte da atenção do público presente em Barcelona. Não existe uma “fórmula mágica” que se aplique para o mercado de forma generalizada, já que é preciso conhecimento dos desafios de cada setor, de cada empresa, para assim ter uma solução customizada.
Olhando para trás, podemos dizer que muitas coisas mudaram sim. Começando pela disseminação e desenvolvimento do tema nas empresas e na sociedade. Hoje há uma melhor compreensão de que inteligência artificial não se restringe e não está necessariamente relacionada a “robôs humanoides”, e de que ela está sendo aplicada de formas mais sutis no dia a dia das empresas e clientes. Também há muitos mais fóruns de discussão, como o próprio MWC, com líderes e tomadores de decisão, além de muito mais investimento para testes, implementações e melhorias das tecnologias. Entretanto, um ponto que ainda precisamos avançar é sobre a confiabilidade, privacidade e segurança das informações. Todos os stakeholders devem tê-las no radar, buscando estar um passo à frente em questões de confiabilidade para que se mitiguem, ao máximo, as vulnerabilidades.
No final do dia, devemos lembrar que GenIA é apenas um meio para atingir os objetivos principais de pessoas e clientes: melhor experiência na interação, eficiência operacional, solução de problemas, entre outros. E quanto maior o entendimento do negócio e/ou desafio do cliente, melhor será o resultado final.
*Este artigo foi publicado inicialmente no Meio & Mensagem.