Por Raquel Teixeira, sócia de EY Private e líder dos programas Winning Women e Empreendedor do Ano Brasil; e José Quintans, gerente sênior de Tecnologia no Centro de Excelência do Agronegócio da EY Brasil
As civilizações humanas e as cidades surgiram na Antiguidade a partir das inovações da Revolução Neolítica, também chamada de Revolução Agrícola. O período marcou a transição na história da humanidade, evoluindo de pequenos bandos nômades de caçadores-coletores para assentamentos agrícolas maiores e uma civilização primitiva. Diante disso, fica claro que inovação e agricultura, desde os seus primórdios, sempre caminharam juntas.
Atualmente, 12 mil anos depois do período descrito, vivemos mais um grande movimento de inovação na agricultura para atender aos desafios do século 21. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 a população mundial chegará a 9,6 bilhões de pessoas, que consumirão cerca de 30 bilhões de refeições por dia. Para suprir essa demanda, a produção mundial de alimentos deve crescer 70%, o que representa um gigantesco impacto ambiental e social.
A única saída para atender a essa demanda é a inovação. Mesmo que o trabalho no campo exija enormes desafios tecnológicos, a tecnologia avança e as agtechs conquistam espaço cada vez maior no Brasil que, devido ao peso do agronegócio na economia nacional, torna-se um celeiro para inovações.
Os desafios são imensos, mas nem mesmo as dificuldades enfrentadas, como a distância dos grandes polos urbanos de tecnologia, carência de dados precisos e confiáveis para mapeamentos, cobertura insuficiente de redes de internet nas áreas rurais mais remotas e até a resistência de parte dos agricultores para adoção de novas soluções de ponta, afasta os empreendedores.
As agtechs promovem a revolução digital aplicada ao agronegócio. São startups que desenvolvem soluções de alta tecnologia para os produtores rurais aumentarem a eficiência em suas plantações e rebanhos. Entre os exemplos de atividades desempenhadas por elas estão: pulverização localizada por drones, tratamento de sementes, irrigação de alta precisão e novas técnicas de plantio, que aumentam a produção por hectare. A introdução destas inovações reduz a necessidade de expansão de áreas cultivadas e contribui para a preservação do meio ambiente.
O relatório Inovação no agronegócio e a qualificação do produtor brasileiro na era digital, produzido pela EY em parceria com a Croplife, revela as tendências que determinarão o futuro do agronegócio brasileiro. O documento aponta três principais fatores que deverão ser o foco de investimentos no setor: sustentabilidade, inovação e novos modelos de geração de receita.
O agronegócio está em constante mudança, cada vez mais inovador e ávido por tecnologia, aspirando o aumento da produção agrícola atrelada à produção sustentável. As tendências para o setor podem ser agrupadas em três grandes grupos. O primeiro são os facilitadores digitais, que incorporam tecnologia para racionalização e uso inteligente de dados, imagens e conectividade. O segundo grupo são os facilitadores de tecnologia e sustentabilidade, que surgem a partir de tecnologias inovadoras, novos alimentos e componentes. Finalmente, o terceiro são os modelos operacionais de negócio, que ocorrem a partir de novas organizações e novos racionais de negócios.
Grandes desafios se colocam para o agro e para as agtechs. Em um cenário de incertezas e após uma crise sanitária, a identificação das oportunidades tecnológicas e de mercado é essencial, assim como o estabelecimento do relacionamento com outros atores do ecossistema de inovação agropecuária.
O relatório Radar Agtech 2021 identifica oportunidades nas áreas de mecanismo de rastreabilidade que são instrumentos importantes, tanto no mercado interno quanto no externo, a partir de tecnologias digitais, como o uso de blockchain. Outras aplicações importantes devem se intensificar, com sistemas de tomada de decisão produtiva a partir de dados e Analytics, para monitoramento de produção e safra, rastreabilidade e a construção de marketplaces para interligar produtores e compradores.
Mas como validar o market fit das soluções das startups para o agro? Como garantir que soluções tecnológicas sejam acessíveis para pequenos e médios produtores rurais que representam 90% dos produtores brasileiros? Como o sistema de inovação aberta pode agregar valor à cadeia e suprir grandes das dificuldades e desafios no agro? Em cooperação, o ecossistema tem mais chances de encontrar essas respostas. A EY, por exemplo, criou em 2021 o Centro de Excelência em Agronegócio e está lançando o EY Startup Hub.
O Brasil é um país com diversos desafios para inovação no campo, proporcionando um ambiente que dá abertura a grandes inovações. Para as startups mais inovadoras do mercado que se propõem a sobrepor os contratempos, sempre haverá grandes oportunidades.
Grandes investimentos para o setor já estão sendo realizados. As agtechs, por exemplo, captaram R$ 7,9 bilhões em 2021, segundo o relatório Farm Tech Investment do AgFunder. Agora, é necessário construir uma relação permanente, com credenciais que evidenciem o aumento da eficiência, o lucro e a sustentabilidade do negócio para atrair mais produtores a adotar tecnologias. Com todo esse enorme ecossistema, estamos no caminho de fazer uma grande jornada de inovação tão impactante quanto foi a Revolução Neolítica.