Por José Ronaldo Rocha, sócio da EY e líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT); Marcos Karpovas, sócio da EY para TMT; e Antonio Pimenta, COO da Siga Antenado
Para as empresas, 5G é um caminho que exige uma abordagem com dois horizontes distintos. O primeiro caminho é o de curto prazo, de otimização dos processos já existentes e de avanço com as capacidades e habilidades já existentes. A otimização operacional e a melhoria de processos, a partir do uso de sensores e da Internet das Coisas (IoT), geram impactos positivos imediatos no negócio e indicam claramente, para toda a empresa e para o mercado, qual é o potencial a ser alcançado.
Ao mesmo tempo, os ganhos de otimização de hoje precisam levar a passos mais amplos para o futuro. Os horizontes apresentados pelas iniciativas táticas estimulam o desenvolvimento do que é inovador, levando a uma transformação mais radical e potencialmente disruptiva para modelos de negócios, empresas e segmentos inteiros. Avance hoje com a otimização para preparar a disrupção de amanhã.
As organizações devem contar com áreas de inovação que se apropriem dos ganhos do 5G e consigam estruturar ações que vão além das melhorias operacionais. Caso contrário, elas estarão tão focadas na otimização dos processos atuais que poderão perder de vista iniciativas importantes para sua aceleração futura. Nesse cenário, é preciso estar pronto para se atualizar sempre, o que não é possível caso falte uma cultura voltada à transformação do negócio.
Para que a transformação disruptiva aconteça, os profissionais que atuam nos negócios precisam ser preparados. Upskilling e reskilling serão essenciais para que as equipes estejam mais prontas para lidar com um futuro ainda difícil de prever – sem a reeducação dos times, as empresas não terão quem faça a transformação acontecer.
Esse é um movimento intenso que precisa começar a acontecer hoje. É um caminho inexorável para o qual as empresas precisarão dedicar tempo, atenção, inspiração e esforço. É também uma iniciativa conjunta, pois nenhum negócio poderá sozinho identificar todas as possibilidades para seu segmento ou todas as ameaças que terá de enfrentar. As cadeias de valor precisam pensar no 5G como uma folha em branco e uma possibilidade de reinvenção – caso contrário, a tecnologia se torna apenas uma forma mais veloz de continuar fazendo o que já existe hoje.
As organizações indicam estar atentas a isso. Mais de 80% dos entrevistados brasileiros pelo estudo Reimagining Industry Futures, da EY, pretendem priorizar vendors que deem suporte a novos modelos de negócios, e 91% acreditam que colaborar com outras organizações (ou mesmo com outros setores) será importante para desenvolver negócios mais sustentáveis nos próximos cinco anos.
Aprender fazendo
Mesmo nos estágios iniciais de uso da conectividade 5G, já está claro que a construção de uma estratégia de negócios passa pela criação de um business case escalável e rentável. Essa é uma forma de aplicar, na realidade de cada negócio, soluções específicas que tragam resultados concretos – e gerem internamente a certeza de que os ganhos obtidos são apenas o início de uma trajetória de transformação do negócio.
Levando em conta que 80% dos dados disponíveis para qualquer empresa não são usados ou são mal aplicados, faz muito sentido utilizar o 5G como uma tecnologia para estruturar a coleta e análise de dados nos negócios. A proliferação de sensores e de tecnologias acessados no modelo “as a service” dá ainda mais possibilidades para que os dados sejam utilizados para a tomada de decisões inteligentes, aumentando a resiliência e a capacidade de adaptação das empresas.
Ainda assim, não existe uma abordagem “one size fits all”: cada negócio precisa avaliar, dentro do seu cenário operacional e estratégico, que iniciativa eleger como estudo de caso prioritário e quais indicadores de desempenho utilizar, assim como o tipo de solução tecnológica baseada em 5G. Para cada caso, haverá uma cadeia distinta de inovação, e, por isso, cada empresa precisa enxergar sua realidade e desenvolver seus caminhos, regras, processos e KPIs.
Com o desenvolvimento de casos de uso em diversas empresas, de vários portes, a partir de tecnologias diferentes, nos próximos anos serão desenvolvidas soluções verticais que fazem sentido em determinados setores da economia. As especificidades B2B estimulam a construção de respostas setoriais para os desafios de negócios, trazendo massificação, desenvolvimento de benchmarks e disseminação de melhores práticas.
Esse é um fluxo que inicia individualmente em cada negócio, mas, com as lições aprendidas, passa a fazer sentido setorialmente e, posteriormente, em ecossistemas inteiros. E é um fluxo que, racionalmente, seria diretamente influenciado pelos resultados alcançados, mas que, em termos práticos, esbarra em demandas regulatórias, setoriais e orçamentos.
Por isso, para que a tecnologia 5G viabilize o desenvolvimento de novos modelos de negócios em diferentes segmentos da economia, é importante iniciar a transformação por áreas onde há mais oportunidades de ganhos ou de redução de perdas. Agronegócio e mineração são dois exemplos de setores que liderarão os avanços 5G no mercado brasileiro, pois têm o potencial de gerar retornos importantes para as empresas e as operadoras de telecom.
Trata-se de uma jornada longa e em constante mudança. Até mesmo por isso, a hora de começar é agora, quando o grande potencial de ganhos e de diferenciação estratégica ainda está na mesa.