Por Armando Lourenzo, presidente do Instituto EY e diretor da EY University
Uma das tendências sobre a liderança, sem dúvida, é a liderança participativa, que tem como principal característica valorizar a participação das pessoas no processo decisório. Com as novas gerações nas organizações e ambientes mais diversos, as pessoas centralizadoras ao extremo perderão cada vez mais espaço.
A liderança participativa, no entanto, exige cuidados. Há pontos de atenção, como o perfil dos profissionais da sua equipe, a cultura da empresa, o nível de qualificação das pessoas, o tempo para a tomada de decisão e a democratização de informações.
As pessoas que trabalham em ambientes mais participativos devem estar abertas para esse tipo de liderança – e, claro, ter algumas habilidades comportamentais mais afinadas. Em geral, os líderes participativos são pessoas que perguntam, têm iniciativa, curiosidade, sabem trabalhar em equipe, compreendem quando suas ideias não são aceitas e têm uma clara orientação para colaborar com a empresa, bem como com a sua área. Também dominam questões técnicas, uma vez que precisam conhecer as áreas da empresa com bom nível de profundidade para que possam dar ideias e saber os impactos disso dentro da organização.
A cultura da empresa também deve dar sustentação para essa maneira de liderar, pois, nas empresas em que as decisões normalmente são tomadas de forma centralizada desde a alta chefia, torna-se muito difícil trabalhar de maneira mais colegiada em razão das rígidas linhas hierárquicas. Em companhias assim, também há baixa tolerância a erros, algo que não combina com a gestão que envolve maior participação de todos.
Muitas pessoas acham que a liderança participativa torna as decisões mais demoradas. Em certa medida, essa crença tem sentido, uma vez que mais pessoas estão participando do processo decisório, e o consenso é mais difícil. Mas esse tipo de liderança também pode resultar em decisões mais rápidas, já que muitas coisas não precisam subir para níveis superiores. Evidentemente que os tipos de decisão precisam estar definidos em relação às competências e atribuições de cada colaborador ou equipe, pois sempre haverá limites.
Em favor da liderança participativa, pode-se afirmar que ela estimula o compromisso das pessoas, diminui o risco da tomada de decisão e, como é baseada em mais opiniões e informações, pode ser também um caminho mais seguro. É importante destacar, no entanto, que trabalhar com esse modelo mais participativo não significa que todos os membros da equipe tomarão todas as decisões, mas sim que a participação das pessoas no processo decisório deve ser valorizada, mesmo que seja apenas com sugestões.
Um ponto-chave para que o processo funcione é a democratização das informações, já que, para que as pessoas possam dar ideias, sugestões ou mesmo indicar caminhos decisórios, é preciso que tenham acesso a dados e subsídios sobre o que está em discussão.
Como líder, é fundamental que você saiba moderar uma reunião sem tolher as pessoas e, ao mesmo tempo, não deixar que se perca o foco sobre o que está em debate a ponto de terminar o encontro sem nenhuma conclusão. Todos devem ter a oportunidade de falar e é preciso incentivar a participação dos presentes sem, no entanto, obrigar ninguém a participar. Também é importante estar atento para não deixar que um ou outro participante domine a cena e monopolize a discussão.
Encontrar a medida certa sobre quais habilidades enfatizar nas diferentes situações ou mesmo a qual estilo de gestão dar mais ênfase não é mesmo uma tarefa simples. Mas esse equilíbrio será, certamente, cada vez mais necessário e desejado pelas corporações e, por conta disso, crucial para o seu futuro.
*Este artigo foi publicado inicialmente pela Você S/A.