Por Raquel Teixeira, sócia-líder da EY Private para América do Sul e líder dos programas Winning Women e Empreendedor do Ano
Sempre que começamos uma mentoria ou consultoria e perguntamos qual a principal dor do empreendedor, já sabemos a resposta de cor: crescer. Seja uma startup, uma empresa liderada por uma das mulheres selecionadas pelo Programa Winning Women ou uma liderança do Programa Empreendedor do Ano – não importa o perfil, nem o tamanho. Quando investigamos mais a fundo, porém, entendemos qual é o entrave para o crescimento e é aí que as dores emergem.
Finanças, comunicação, administração, entendimento do consumidor, compreensão das demandas do mercado, tecnologia, inovação e sustentabilidade. São muitos os caminhos a serem percorridos para se estabelecer uma empresa e conquistar o tão sonhado crescimento. E são muitas as variáveis.
No caso das startups, que já nascem querendo ser unicórnios, a ansiedade é maior. O mercado desacelerou um pouco no período de pandemia e pós e está cada vez mais exigente. Passado o frisson inicial, a verdade é que os investidores estão mais criteriosos – o que também impactou nesse desaquecimento, incluindo nesse bolo pandemia, eleições e troca de governo. Percebemos, no nosso hub de startups, que a preocupação com ESG nesse segmento de empresas já é uma realidade: os impactos sociais, ambientais e de governança são fatores determinantes para tomada de decisão de muitos investidores.
De acordo com a EY “Global Reporting and Institutional Investor Survey”, realizada em 2022 com mais 1.040 líderes financeiros seniores e 320 investidores, 99% dos investidores utilizam as divulgações ESG das empresas como parte de suas decisões de investimento.
O levantamento aponta ainda que 78% dos investidores entrevistados acreditam que as empresas devem fazer investimentos que abordem questões ESG relevantes para seus negócios, mesmo que isso reduza os lucros no curto prazo. Contudo, 55% dos líderes financeiros das empresas entrevistadas acreditam que sua empresa deve abordar questões ESG relevantes para o negócio, mesmo quando o resultado é uma redução de curto prazo no desempenho financeiro e na lucratividade.
O levantamento reforça que a estratégia de investimento está ligada a uma análise da geração de valor a longo prazo. Lucrar é importante. Mas ser próspero, inclusivo e atento à realidade além das fronteiras do seu negócio é essencial. O propósito da empresa é algo que tem de estar amarrado a todas as iniciativas, do cuidado com funcionário à comunicação com o cliente, passando pelo processo de produção de um produto ou de criação do serviço e chegando à comunidade como um todo.
O consumidor evoluiu e empresas com propósito são mais buscadas e admiradas. Por isso, outro ponto relevante, ainda falando em startups, é entender se a solução que está sendo criada resolve – efetivamente – uma dor do mercado. Há uma saturação de demandas, e, muitas vezes, o tema da vez não é, de fato, o que vai fazer brilhar os olhos de quem vai comprar a ideia – seja um investidor ou um cliente.
A diversidade no time também é um ponto a ser levado em consideração. Mulheres e tecnologia, sabemos, é uma combinação rara no mercado ainda prevalentemente masculino. E como o segmento de startups ainda é muito focado em base tecnológica, temos um desafio extra de tê-las como líderes. Mapeamento recente da ABStartups (Associação Brasileira de Startups) destaca que a participação de mulheres como fundadoras de startups no Brasil vem crescendo nos últimos anos, contudo, infelizmente, ainda é bem embrionária. Em 2020, o número de mulheres CEOs não chegava a 13%. Em 2021, a porcentagem foi de quase 17% e, em 2022, chegou aos 20%.
Quando falamos de outros tipos de diversidade, a situação não é mais animadora. A ABStartups mostra também que, apesar de 96,8% dos fundadores declararem que seus negócios apoiam a diversidade, 60,7% não têm ações voltadas à inclusão.
Além de dar mais espaço para a diversidade, é preciso rever a premissa de que startup precisa, majoritariamente, ter base tecnológica. A inovação está, sem dúvida, no DNA dessas empresas, mas não precisa ser um empreendimento de tecnologia para ser uma startup. No hub da EY, temos diversas iniciativas que trazem produtos inovadores e surpreendentes e não necessariamente nascidos de um código fonte. O propósito de uma startup é trazer soluções para o mercado que, muitas vezes, não estão no radar ou não são de interesse das grandes empresas.
Com olhar colaborativo e aberto ao novo, iniciativas ESG como pilar estratégico, boa consultoria e planejamento, crescer não será mais uma dor, mas um processo natural. Não é fácil. Mas é perfeitamente viável.
*Este artigo foi publicado inicialmente pela Forbes.