Por Alexandre Rangel, sócio EY e líder da indústria de Agronegócios para América Latina Sul
Não há como falar de Agronegócio sem considerar a redução dos impactos ambientais. No último ano, a pesquisa Top 10 Riscos e Oportunidades para Agronegócio, realizada pelo Centro de Excelência EY de Agronegócios (CEA), produziu um mapeamento de percepções de executivos das principais empresas do Brasil, Argentina e Chile em relação à escala hierárquica de perigos e possibilidades nos negócios e operações. Além de apresentar uma dimensão de prioridades para diversos setores, o estudo trouxe reflexões e apontamentos sobre como reposicionar a agenda do Agronegócio para a transformação.
Pela primeira vez, a última COP27 centralizou estrategicamente a discussão sobre o Agronegócio de forma mais propositiva. Na primeira semana da conferência, 14 empresas globais do setor lançaram o Roadmap for Traders – um plano de combate ao aquecimento global nas cadeias de soja, óleo de palma e pecuária. Atualmente, há uma grande lacuna em termos de modelos capazes de fazer as análises de impactos e propostas de soluções para o mundo. A pergunta central que ainda persiste é: vamos apenas caminhar rumo a uma visão baseada em modelos que são aplicáveis aos países desenvolvidos ou iremos, enfim, olhar para todos os países – sobretudo os subdesenvolvidos?
O Brasil, sem dúvidas, promete muita exuberância no setor do Agronegócio. O uso da terra tem potencial impulsionador à liderança global do país, tanto no que diz respeito à economia de baixo carbono quanto à sustentabilidade de base florestal. Temos ativos socioambientais capazes de revolucionar a bioeconomia do século 21. Entretanto, quando nos deparamos com dados mundiais, ocupamos a posição do quinto maior emissor global de efeito estufa (GEE), deixando para trás apenas a China, os Estados Unidos, a Índia e a Rússia. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2021, emitimos seis em cada 100 toneladas de CO2 no planeta. Enquanto isso, só as mudanças do uso do solo foram responsáveis por 49% das emissões nacionais.
A obtenção de dados, estatísticas e evidências de qualidade é a chave para direcionar investimentos estratégicos à descarbonização, bons negócios e geração de inteligência capaz de orientar novas tecnologias de ação e combate aos riscos do Agronegócio. Dentre as questões ambientais e regulatórias, além dos desafios geopolíticos, os principais riscos destacados pela pesquisa foram mudança do clima, gargalos na infraestrutura e agricultura de baixo carbono.
Avançamos no desenvolvimento de novos portos, construção de novas rodovias, além do modal aquaviário e especial. Há grandes gargalos logísticos de escoamento. Isso evidencia que o nosso principal desafio, olhando para 2030, é manter os investimentos de logística, porque a produção contínua precisa seguir aumentando a necessidade de não apenas alimentar a bioenergia para o mundo. Em vista dos múltiplos cenários da agricultura no Brasil frente ao desafio de transição para uma economia de carbono net zero, elaboramos um guia prático com cinco orientações para impulsionar novos rumos no setor de Agronegócio no país.
1) É muito relevante olhar para as empresas do Brasil que cresceram tardiamente e que, em menos de cinco anos, multiplicaram seu faturamento por dez. Ou seja: deixaram de ser empresas familiares e se tornaram uma multinacional, empresa de bilhões de reais e que precisam cada vez mais investir em processo de governança corporativa, transparência e controles internos. Sendo assim, a gestão dessas empresas precisa ser do nível das melhores empresas brasileiras, pois é isso que elas se tornaram em período muito curto.
2) Negócios, produtividade e tecnologia. A própria questão da gestão de inovação e tecnologia é fundamental para a produtividade em relação ao aumento de fronteiras agrícolas e recuperação de pastagens degradadas. O uso da tecnologia e a qualificação do capital humano, das pessoas, para trabalhar em um ambiente altamente tecnológico – startups e empresas no mundo urbano voltadas para o agro – são estratégicos, pois o negócio acontece onde está a fronteira da inovação tecnológica no Brasil. O Agronegócio, hoje, põe uma série de desafios em relação a como reter, como remunerar, como estimular, como manter essas pessoas nas empresas. É preciso se preparar para esse tipo de mão de obra, que possui demandas e expectativas bastante peculiares e inéditas para o setor.
3) Um dos fatores críticos do sucesso é a manutenção dos investimentos privados em logística. Não faz sentido que seja via governo, que tem outras prioridades. É preciso que seja feito por iniciativa privada, e, nesse momento, essa escolha pode ser muito por impulsionar a descarbonização.
4) Apostar em uma comunicação positiva e de resultados. A criação de uma coalizão entre o mundo do Agronegócio e o da sustentabilidade não é sobre convergências e divergências, mas sobre complementaridades. O Agro brasileiro, se não for o mais, é um dos mais sustentáveis do mundo. A captura de carbono e a matriz energética do Agro são as mais limpas dos grandes países produtores (até porque o Brasil usa energias limpas, como a matriz hidrelétrica e o etanol e biodiesel). A produção de estudos, pesquisas, fact sheets, séries audiovisuais, podcasts, entrevistas didáticas na imprensa, metodologias de sucesso é fundamental para a produção de conhecimentos e evidências positivas sobre o tema.
5) O Brasil tem potencial para desenvolver não apenas o Agronegócio de grande porte, mas também o pequeno produtor, a agricultura familiar (que hoje tem pouca informação de como pode se beneficiar desse processo do ponto de venda de carbono). Um dos papéis do setor corporativo é a mola educacional, provendo produtos e serviços por meio dos pequenos produtores e atores familiares. Isso traz benefícios não só do ponto de vista ambiental, mas também para a economia de baixo carbono. Precisamos gerar mais eficiência e rentabilidade na produção. No final, estabilidade e rentabilidade caminham de mãos dadas. A economia de baixo carbono deve igualmente ocupar a agenda do produtor familiar e ser, assim, uma preocupação de todo o setor e um ponto inegociável para uma sociedade mais competitiva na agricultura.
Este artigo faz parte do ESG Guidebook. Acesse aqui o e-book na íntegra.